de Nicolas Wright
2 out a 9 nov 2025
11 fev a 10 abr 1994
Teatro da Comuna, Lisboa
90 min
M/12
Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores • Ñaque ou sobre piolhos e actores
sinopse
SOBRE A OBRA
“Heis-de saber, meus senhores, que há oito tipos de companhias e de representantes, todas diferentes : bululú, ñaque, gangarilha, cambaleo, garnacha, bojiganga, farândula e companhia (…); ñaque são dois homens que fazem um trecho dum auto, um entremês e dizem umas oitavas e duas ou três loas. Cobram a oitavo, vivem contentes, dormem vestidos, comem como esfomeados, despiolham-se no verão entre os trigais e, no inverno, com o frio, não sentem os piolhos.”
Esta conhecida passagem -e mais algumas páginas- do livro de Agustín de Rojas Villadandro “El viaje entretenido” (1603) constituem o núcleo germinal do texto “Ñaque ou sobre piolhos e actores”.
Texto ao mesmo tempo simples e complexo, uma vez que, articulando-se em torno de uma única situação de diálogo, encadeia uma variada gama de subproductos literários do Século de Ouro espanhol, farrapos de uma cultura popular que raramente acede aos museus do saber estabelecido. De facto, foi este o ponto de partida do trabalho dramatúrgico e também o seu objectivo oríginal: o resgate vivificador -não arqueológico- de uma subcultura popular deteriorada pelo uso colectivo, e a sua adscrição às formas marginais do acontecimento teatral.
A história do teatro, classista e elitista, legou-nos e engrandeceu uma imagem da arte dramática vinculada aos valores literários de uns textos mais ou menos ilustres, privilégio da escrita.
Mas, ao lado do teatro como Arte e como Instituição, paralelamente a esse cerimonial complexo e prestigioso que o Poder se apressa a proteger quando não consegue asfixiar, surge outro -submerso, liminar, plebeio- que ergue da superfície da terra o seu tosco artificio. Assim sucede também no chamado Século de Ouro da cultura espanhola. Junto à brilhantez de Lope, Tirso, Calderón, etc, prolifera uma duvidosa multidão de poetaços e mexeriqueiros de versos impróprios, de trapaçeiros e actores “de la legua” que vagabundeiam com a sua arte (?) às costas por vilas, aldeias, herdades e estalagens: “gente folgazona, mal intencionada e viciosa”, na opinião de um frade do seu tempo.
Todos os estudiosos que se confrontaram com o complexo problema da condição social do actor, coincidem em sinalizar a antiguidade e a ambivalência do seu status: admirado, invejado, elogiado e inclusivamente glorificado, não obstante, suscita a desconfiança, o desprezo e a hostilidade das classes dominantes ou simplesmente acomodadas.
Em redor da temática da condição do actor e da sua posição na sociedade, concretizada na relação com o público, desenvolve-se a trama de “Ñaque”. Condição precária, ja que a sua debilidade e a sua força dependem do encontro fugaz e sempre incerto com esse ser múltiplo e desconhecido que espreita na sombra da sala e aparentemente só escuta e olha.
Solano e Rios, dois dos comediantes que Agustín de Rojas faz dialogar no seu livro “El viaje entretenido”, desprendem–se aqui da sua identidade real, histórica, para comparecerem diante de nós como fantasmas paradigmáticos da errática e precária condição teatral. Eles são a carne esfomeada e cansada -eterna morada de piolhos- desse espírito que perdura nos textos ilustres.
Já de si efémera, a sua arte está condenada à erosão e à degradação no áspero contacto com o quotidiano: o “fogo sagrado” que os artistas acreditam ser portadores, apenal lhes chega para afugentar os frios do Inverno ou aquecer a malga que alguma vez recebem como pagamento.
Deste modo, chegam ao aqui e ao agora da representação vindos de um longo vagabundear através do espaço e do tempo. Hão-de repetir, ante o público, o seu tosco espectáculo, a meio caminho entre o relato e a interpretação, mas, o cansaço, o aborrecimento, as dúvidas e temores, atrasam, interrompem uma e outra vez a sua actuação num diálogo que -deliberadamente- os aparenta com Vladimir e Estragón, os ambíguos cómicos de Beckett.
Através deste diálogo entrecortado, que constitui mais de metade do texto, Rios e Solano descobrem-nos -e descobrem-se mutuamente- na radical fragilidade da sua condição: vestígios de um tempo remoto, ecos de si mesmo, remendos de um jogo de ficções, sombras de uma arte ilusória e fugaz. E também a sua marginalidade radical: desde os últimos degraus de um ofício desclassificado, a muito custo conseguem ascender à Historia, chegar ao Teatro, deixar vestígios dos seus passos, sobreviver. Destino do actor, que o piolho partilha…
(*) Extracto do nº 186 da revista Primer Acto (Outubro / Novembro 1980). Madrid.
ficha técnica
Texto José Sanchis Sinisterra
Tradução José Carlos González
Actores Miguel Seabra (Rios) e Alvaro Lavín (Solano)
Desenho e Realização de Figurinos Maria Luiz e Susana Nogueira
Apoio Musical José Pedro Caiado
Apoio vocal Sîan Thomas
Produtor Executivo Rui Calapez
Fotografia e video Pedro Sena Nunes
Desenho Gráfico Miguel Salvatierra
Assistente de Encenação Julio Salvatierra
Dramaturgia e Adaptação Teatro Meridional
Desenho de luzes e Encenação Teatro Meridional
Agradecimentos: João Mota, J. Sanchis Sinisterra, Comuna Teatro de Pesquisa, Centro cultural de Belém, António Amaral, RESAD Madrid, Sr. Neves, Rosa, Servideo, Drª Angela Duarte
ITINERÂNCIA 1994
20 maio, Cinearte, Alcobaça
27 a 30 maio, Teatro Lethes, Faro
8 e 9 jun, Cooperativa do Povo Portuense, Porto
16 jun, Orfeão, Leiria
8 jul, Theatro Circo, Braga
10 jul, Teatro Sá de Miranda, Viana do Castelo
16 jul, Escola Secundária D. António da Costa, Almada
18 jul, Auditório do Castelo, Ribadavia, Galiza
15 ago, Auditório do castelo, Montemor o Velho
8 set, Cine galáxias, Canga de Morazzo, Galiza
9 e 10 set, La Nasa, Santiago de Compostela
30 set a 2 out, Cuarta Pared, Madrid
19 a 23 out, Centro Cultural de Belém, Lisboa
24 out, Teatro Crisfal, Portalegre
27 out, Cine Rega, Carballo, Corunha, Espanha
2 e 3 nov, Teatro Avenida, Coimbra
11 nov, Fórum Cultural, Seixal
17 nov, Casa da Cultura, Santa Fé, Granada, Espanha
18 nov, Centro Social la Nava, Huetor Veja, Granada, Espanha
19 nov, Casa da Cultura, Guadix, Granada, Espanha
20 nov, Casa da Cultura, Vélez de Benaudalla, Granada, Espanha
22 nov, Centro Cultural de Belém, Lisboa
2 dez, Gijón, Astúrias, Espanha
7 a 18 dez, Centro Cultural Galileo, Madrid
ITINERÂNCIA 1995
7 abr, Teatro Auditório, Cuenca, Espanha
9 abr, Coliseu Luengo, Guadalajara, Castela, Espanha
27 abr, Olhão
9 a 11 maio, Teatro Alfil, Madrid
ITINERÂNCIA 1998
31 mar a 4 abr, Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, Lisboa
9 abr, Cine Teatro, Loulé
24 a 26 abr, Teatro Anglo Montevideo, Uruguai
21 maio, Teatro Cine Rosales, Arucas, Las Palmas, Espanha
23 maio, Instituto Português da Juventude, Leiria
17 jul, Centro Cultural de Paredes de Coura
12 ago, Teatro Real Coliseo Carlos III, Madrid
23 a 26 set, Centro Cultural São Paulo, Brasil
PRÉMIOS
Prémio Nacional da Crítica 1994 – Associação Portuguesa de Críticos de Teatro
Prémio de Reposição do concurso “O Teatro na Década” – Clube Português de Artes e Ideias
Prémio Melhor Interpretação – Miguel Seabra e Alvaro Lavin – C.P.A.I
Eleito para representar Portugal na VII Bienal dos Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâne
Prémio do Público – FIT Almada 1994
Prémio Melhor Interpretação – Miguel Seabra – FIT Arcipeste de Hita – Guadalajara (Espanha) 1995
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